quarta-feira, 7 de julho de 2010

Me deu saudade




De tempos em tempos me dá vontade de vir escrever aqui. Ás vezes penso "nossa eu deveria escrever sobre isso". Mas depois, acabo deixando o "isso" ali, esqueço o "isso" por aí, e o "isso" acaba virando um "o que era mesmo..?"

Hoje, porém, achei um texto que escrevi faz uns dois anos que me deu uma vontade imensa de.. não sei. Me deu saudade. Aí vai:


"Sou bisneta de uma família grande vinda da Itália, neta de um casal do interior, e filha única de jovens paulistanos. No meio de tanta gente nasceu, 47 anos antes que eu, meu tio avô que tinha Síndrome de Down.



Era uma cidade do interior, sem recursos para tratar, em uma época em que pouco sabia-se sobre a condição. Então Tuio, como era carinhosamente chamado, foi criado como uma criança. A maioria delas ignorava sua doçura, e sentiam medo diante de suas feições diferentes. Eu, desde criança tinha uma ligação inexplicável com ele.



Nunca tive medo, o ajudava e o conforatava, em uma relação de muito carinho em que éramos cúmplices um do outro. Na brincadeira de minha família de haver sempre um protegido por parte dos adultos, ele sempre foi o que mais me protegeu.



Aprendi muito e devo muito à ele, embora tenha sido privado de estudos e de uma vida realista. Vivia em outro mundo, onde sua imaginação prevalecia, mas sempre inacreditavelmente com uma inteligência surreal.



Como sabíamos e controlávamos, ele era portador de diabete, e no carnaval de 2006, como sempre, fui para Santa Rita do Passa Quatro e descobri que ele estava internado, com 63 anos, superando as expectativas de vida de apenas 1 ano que os médicos o deram. Levei uma amiga comigo para aproveitar, o que mais tarde seria o pior feriado da minha vida.


Como sempre acreditei em sua força, achei que nada fosse acontecer, de verdade. Até que um dia depois sem querer, fui avisada por um de meus primos que ele tinha nos deixado. O que senti é até hoje inexplicável, parecia que o mundo tinha caído não só aos meus pés. A ligação que tínhamos era tão grande e tão forte que após ter passado por muitas barreiras na vida, atesto que aquele dia me marcou para sempre. Era como se toda a doçura, a bondade e o elo da família tivesse virado as costas e ido embora. Sem se despedir, sem ao menos direito a um último nada. Sua presença em minha vida durou dezesseis maravilhosos anos repletos de felicidade e aprendizados em que sua condição não era um peso, mas sim uma bênção".